10.3.12

os dois horizontes - machado de assis/crisálidas -

dois horizontes fecham nossa vida:

um horizonte, — a saudade
do que não há de voltar;
outro horizonte, — a esperança
dos tempos que hão de chegar;
no presente, — sempre escuro,
vive a alma ambiciosa
na ilusão voluptuosa
do passado e do futuro.

os doces brincos da infância
sob as asas maternais,
o vôo das andorinhas,
a onda viva e os rosais;
o gozo do amor, sonhado
num olhar profundo e ardente,
tal é na hora presente
o horizonte do passado.

ou ambição de grandeza
que no espírito calou,
desejo de amor sincero
que o coração não gozou;
ou um viver calmo e puro
à alma convalescente,
tal é na hora presente
o horizonte do futuro.

no breve correr dos dias
sob o azul do céu, — tais são
limites no mar da vida:
saudade ou aspiração;
ao nosso espírito ardente,
na avidez do bem sonhado,
nunca o presente é passado,
nunca o futuro é presente.

que cismas, homem? – perdido
no mar das recordações,
escuto um eco sentido
das passadas ilusões.
que buscas, homem? – procuro,
através da imensidade,
ler a doce realidade
das ilusões do futuro.

dois horizontes fecham nossa vida.

joaquim maria machado de assis, escritor que nasceu no rio de janeiro a 21 de junho de 1839, e lá morreu em 29 de setembro de 1908.

11.9.10

os fantasmas de monza

passei a adolescência entre caras que amavam corrida de automóvel.
ir a interlagos, por qualquer razão, era uma festa.
dali, pra fórmula 1 foi um passo.

todo setembro tem monza. gp num circuito maduro e apaixonante que me lembra o autorama da estrela com as pistas inclinadas, que a gente tinha lá em casa.

amanhã, domingo, 12, como sempre em setembro, acontece o gp de monza.
a pista, situada nas cercanias de monza, região da lombardia, foi construída em maio/julho de 1922, e tornou-se o mais reverenciado templo da f1.

durante a segunda guerra, as corridas foram interrompidas e monza foi destroçada.
o gp da gran bretanha e o gp de monza são os únicos que figuram, sempre, no calendário do campeonato mundial de f1. contudo, monza não fez parte da temporada de 1980. naquele ano, o gp foi em imola.

três curvas são o emblema daquele circuito: a curva dei lesmo, a variante ascari, e a temível parabólica - em 1989, senna rodou na parabólica.
a velocidade de monza gira em torno de 250/350km/h. portanto, uma das mais velozes do mundo. essa característica é alcançada pela alta porcentagem do traçado, que os pilotos percorrem com o acelerador bem pisado, devido às longas retas. a velocidade máxima alcançada em monza, foi em 2005, por juan pablo montoya, a 372,6 km/h, durante os treinos livres.
monza, anos atrás - 1971/1972 - recebeu algumas chicanes - seqüência de curvas em formato de s (esse) utilizadas para diminuir a velocidade dos carros, localizadas, quase sempre, depois de uma longa reta. as chicanes não foram suficientes para diminuir o carisma de monza.

a floresta que acolhe o circuito de monza é parte integrante da história daquela pista.
dizem, os que conseguiram entrar lá, sem serem flagrados pelo sistema de segurança, que fantasmas rondam aquela área.


acima, um dos bakings, desativados, de monza, onde os fantasmas se encontram na madrugada
monza é linda, rápida, verde e lendária, pelas muitas histórias que encerra.

quando o gp da itália era disputado no circuito de monza com o anel de velocidade dotado do banking de 38º de inclinação, em 1961, uma tragédia se abateu sobre a corrida e decidiu o campeonato: o alemão wolfgang von trips, era líder do campeonato, favorito ao título, corria pela ferrari 156 squalo, e bateu com jim clark na curva parabólica. morreram o piloto e 14 espectadores. aquela foi uma das maiores tragédias da história do circo da f1. mesmo assim, a ferrari foi campeã com o outro piloto: phil hill/eua.

foi em monza, em 10 de setembro de 1972, o primeiro ano das chicanes para diminuir velocidades, que emerson fittipaldi, guiando o lotus 72 preto e dourado, ganhou seu primeiro título mundial.
porém, aquela vitória ocorreu a duras penas: o caminhão que levava o equipamento principal do piloto sofreu um acidente, perto de milão; guiando o carro reserva, fittipaldi fez o 6º tempo; um vazamento de combustível foi detectado, bem na hora do alinhamento. o carro foi consertado e ficou pronto pra largada.
com a narração de wilson "pai" fittipaldi pela jovem pan, o filho, emerson fittipaldi, desde os primeiros segundos de corrida contou com a sorte.
é o que se pode sitar como, o piloto certo, na hora exata.
jackie stewart, sem embreagem na sua tyrrell, não saiu, clay regazzoni bateu no carro de josé carlos pace, retardatário, e a ferrari de jacky ickx quebrou.
quase meia década mais tarde, em 10 de setembro de 1978, ricardo patrese fez com que a lotus de ronnie peterson batesse no guard-rail. com isto, a lotus do sueco voou, em chamas, provocando um rebuliço na pista e a interrupção da corrida para remoção dos destroços. ronnie peterson foi levado ao hospital com multifraturas nas pernas que lhe foram amputadas. não bastasse isto, durante a cirurgia um pedaço de osso, que não fora retirado no momento da limpeza dos ferimentos, alojou-se na corrente sanguínea do piloto que morreu de embulia.
a mais polêmica temporada da f1, ocorreu em monza, em setembro de 1989. o motor do honda do senna explode, depois que roda na parabólica, e prost vence a corrida.
é isso.


os dois horizontes - machado de assis/crisálidas -

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